Vinha pela São João. Acabara de me ser negado outro emprego. A garantia do governo estava no último mês. Uma merreca. Não tinha guardado nada dos outros meses. A grana não cobria nem os gastos com a cerveja. Além do aluguel, pegara um empréstimo com o Canhoto. Gente boa, mas quando se tratava de dinheiro, engrossava.
Precisava de emprego. Precisava pagar o Canhoto. Fui até o boteco do mané. O clima não estava bom desde o dia que, ali perto, o Tonhão apagou o Zéca. Pedi uma cerveja. Estava quente. Não reclamei.
Na rua a molecada brincava. Dois pedaços de pedra, finos. Eram duas motocicletas. O guri usava calção velho. Também usava havaianas. Uma de cada cor. Preta do pé direito e azul no esquerdo. Duvido que deixem o moleque entrar num shopping. Brincar naquelas salas de jogos com luzes piscando, música, efeitos sonoros e visuais. E duvido que o guri tenha dinheiro, ou consiga algum com o pai bêbado. Vai ver que é por isso que pobre tem imaginação. Se não imaginasr, cai mais fundo no buraco que o nascimento já o colocou. Aqueles guris tinham mais responsabilidade que os pais deles. E não tinham culpa por ter nascido.
Tomei outro gole. Na televisão do bar passava um jogo da segunda divisão. Só segunda divisão pra ter jogo na quinta de tarde. Cara de sorte, o Mané. O movimento era bom. Sobrava o suficiente para pagar canal por assinatura. E na sexta o boteco lotava, iam ver a mulherada rebolar do pagode. De vez em quanto eu ia lá. Mas só quando achava que podia dormir acompanhado. Sempre dormia. Raramente acompanhado.
Uma vez o Mané tinha me dado um trabalho. Na copa. Era só pegar a anotação do garçom e entregar a bebida. Isto e lavar copos. Fique lá um tempo, mas acabava bebendo mais do que servindo. O Mané percebeu e me mandou trabalhar na limpeza. Não suportava beber os restos da cerveja das garrafas que recolhia. Estava sempre quente. Como a que tomava agora. Pedi a conta.
Quente, num dia quente e de azar. Suava muito. Sabia que o desodorante que estava no fim não seria substituído. Ia ficar desacompanhado mais uma sexta.
Precisava de emprego. Precisava pagar o Canhoto. Fui até o boteco do mané. O clima não estava bom desde o dia que, ali perto, o Tonhão apagou o Zéca. Pedi uma cerveja. Estava quente. Não reclamei.
Na rua a molecada brincava. Dois pedaços de pedra, finos. Eram duas motocicletas. O guri usava calção velho. Também usava havaianas. Uma de cada cor. Preta do pé direito e azul no esquerdo. Duvido que deixem o moleque entrar num shopping. Brincar naquelas salas de jogos com luzes piscando, música, efeitos sonoros e visuais. E duvido que o guri tenha dinheiro, ou consiga algum com o pai bêbado. Vai ver que é por isso que pobre tem imaginação. Se não imaginasr, cai mais fundo no buraco que o nascimento já o colocou. Aqueles guris tinham mais responsabilidade que os pais deles. E não tinham culpa por ter nascido.
Tomei outro gole. Na televisão do bar passava um jogo da segunda divisão. Só segunda divisão pra ter jogo na quinta de tarde. Cara de sorte, o Mané. O movimento era bom. Sobrava o suficiente para pagar canal por assinatura. E na sexta o boteco lotava, iam ver a mulherada rebolar do pagode. De vez em quanto eu ia lá. Mas só quando achava que podia dormir acompanhado. Sempre dormia. Raramente acompanhado.
Uma vez o Mané tinha me dado um trabalho. Na copa. Era só pegar a anotação do garçom e entregar a bebida. Isto e lavar copos. Fique lá um tempo, mas acabava bebendo mais do que servindo. O Mané percebeu e me mandou trabalhar na limpeza. Não suportava beber os restos da cerveja das garrafas que recolhia. Estava sempre quente. Como a que tomava agora. Pedi a conta.
Quente, num dia quente e de azar. Suava muito. Sabia que o desodorante que estava no fim não seria substituído. Ia ficar desacompanhado mais uma sexta.